Reproducimos un excelente artículo del ex presidente de Brasil Luis Inacio Lula Da Silva publicado por el Instituto Lula, el 17 de julio pasado, donde analiza las grandes movilizaciones ocurridas hace pocos días en Brasil. Lo transcribimos en su versión original en portugués seguida de su traducción.
Novas vozes no Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
A juventude, conectada nas redes sociais e com os dedos ágeis em seus celulares, tem saído às ruas para protestar em diversas regiões do mundo.
Parecia mais fácil explicar as razões de tais protestos quando eles aconteciam em países sem democracia, como o Egito e a Tunísia em 2011, ou onde a crise econômica levou o desemprego juvenil a níveis assustadores, como na Espanha e na Grécia, por exemplo. Mas a chegada dessa onda a países com governos democráticos e populares, como o Brasil, quando temos as menores taxas de desemprego da nossa história e uma inédita expansão dos direitos econômicos e sociais, exige de todos nós, líderes políticos, uma reflexão mais profunda.
Muitos acham que esses movimentos significam a negação da política. Eu acho que é justamente o contrario: eles indicam a necessidade de se ampliar ainda mais a democracia e a participação cidadã. De renovar a política, aproximando-a das pessoas e de suas aspirações cotidianas.
Eu só posso falar com mais propriedade sobre o Brasil. Há uma ávida nova geração em meu país, e eu creio que os movimentos recentes são, em larga medida, resultado das conquistas sociais, econômicas e políticas obtidas nos últimos anos. O Brasil conseguiu na última década mais que dobrar o número de estudantes universitários, muitos deles vindos de famílias pobres. Reduzimos fortemente a pobreza e a desigualdade. São grandes feitos, mas é também absolutamente natural que os jovens, especialmente aqueles que estão obtendo o que seus pais nunca tiveram, desejem mais.
Estes jovens tinham 8, 10,12 anos quando o partido que eu ajudei a criar, o PT, junto com seus aliados, chegou ao poder. Não viveram a repressão da ditadura nos anos 60 e 70. Não viveram a inflação dos anos 80, quando a primeira coisa que fazíamos ao receber um salário era correr para um supermercado e comprar tudo o que fosse possível antes que os preços subissem no dia seguinte. Também tem poucas lembranças dos anos 90, quando a estagnação e o desemprego deprimiam o nosso país. Eles querem mais. E é compreensível que seja assim. Tiveram acesso ao ensino superior, e agora querem empregos qualificados, onde possam aplicar o que aprenderam nas universidades. Passaram a contar com serviços públicos de que antes não dispunham, e agora querem melhorar a sua qualidade. Milhões de brasileiros, inclusive das classes populares, puderam comprar o seu primeiro carro e hoje também viajam de avião. A contrapartida, no entanto, deve ser um transporte público eficiente e digno, que facilite a mobilidade urbana, tornando menos penosa e estressante a vida nas grandes cidades.
Os anseios dos jovens, por outro lado, não são apenas materiais. Também querem maior acesso ao lazer e à cultura. E, sobretudo, reclamam instituições politicas mais transparentes e limpas, sem as distorções do anacrônico sistema partidário e eleitoral brasileiro, que até hoje não se conseguiu reformar. É impossível negar a legitimidade de tais demandas, mesmo que não seja viável atendê-las todas de imediato. É preciso encontrar fontes de financiamento, estabelecer metas e planejar como elas serão gradativamente alcançadas.
A democracia não é um pacto de silêncio. É a sociedade em movimento, discutindo e definindo suas prioridades e desafios, almejando sempre novas conquistas. E a minha fé é que somente na democracia, com muito dialogo e construção coletiva, esses objetivos podem ser alcançados. Só na democracia um índio poderia ser eleito Presidente da Bolívia, e um negro Presidente dos Estados Unidos. Só na democracia um operário e uma mulher poderiam tornar-se Presidentes do Brasil.
A história mostra que, sempre que se negou a política e os partidos, e se buscou uma solução de força, os resultados foram desastrosos: guerras, ditaduras e perseguições de minorias. Todos sabemos que, sem partidos, não pode haver verdadeira democracia. Mas cada vez fica mais evidente que as nossas populações não querem apenas votar de quatro em quatro anos, delegando o seu destino aos governantes. Querem interagir no dia a dia com os governos, tanto locais quanto nacionais, participando da definição das políticas públicas, opinando sobre as principais decisões que lhes dizem respeito.
Em suma: não querem apenas votar, querem ser ouvidas. E isso constitui um tremendo desafio para os partidos e os lideres políticos. Supõe ampliar as formas de escuta e de consulta, e os partidos precisam dialogar permanentemente com a sociedade, nas redes e nas ruas, nos locais de trabalho e de estudo, reforçando a sua interlocução com as organizações dos trabalhadores, as entidades civis, os intelectuais e os dirigentes comunitários, mas também com os setores ditos desorganizados, que nem por isso tem carências e desejos menos respeitáveis.
E não só em períodos eleitorais. Já se disse, e com razão, que a sociedade entrou na era digital e a política permaneceu analógica. Se as instituições democráticas souberem utilizar criativamente as novas tecnologias de comunicação, como instrumentos de dialogo e participação, e não de mera propaganda, poderão oxigenar – e muito – o seu funcionamento, sintonizando-se de modo mais efetivo com a juventude e todos os setores sociais.
No caso do PT, que tanto contribuiu para modernizar e democratizar a política brasileira e que há dez anos governa o meu país, estou convencido de que ele também precisa renovar-se profundamente, recuperando seu vinculo cotidiano com os movimentos sociais. Dando respostas novas a problemas novos. E sem tratar os jovens com paternalismo.
A boa noticia é que os jovens não são conformistas, apáticos, indiferentes à vida pública. Mesmo aqueles que hoje acham que odeiam a política, estão começando a fazer política muito antes do que eu comecei. Na idade deles, não imaginava tornar-me um militante político. E acabamos criando um partido, quando descobrimos que no Congresso Nacional praticamente não havia representantes dos trabalhadores. Inicialmente não pensava em me candidatar a nada. E terminei sendo Presidente da República. Conseguimos, pela política, reconquistar a democracia, consolidar a estabilidade econômica, retomar o crescimento, criar milhões de novos empregos e reduzir a desigualdade no meu país. Mas claro que ainda há muito a ser feito. E que bom que os jovens queiram lutar para que a mudança social continue e num ritmo mais intenso.
Outra boa notícia é que a Presidente Dilma Rousseff soube ouvir a voz das ruas e deu respostas corajosas e inovadoras aos seus anseios. Propôs, antes de mais nada, a convocação de um plebiscito popular para fazer a tão necessária reforma política. E lançou um pacto nacional pela educação, a saúde e o transporte público, no qual o governo federal dará grande apoio financeiro e técnico aos estados e municípios.
Quando falo com a juventude brasileira e de outros países, costumo dizer a cada jovem: mesmo quando você estiver irritado com a situação da sua cidade, do seu estado, do seu país, desanimado de tudo e de todos, não negue a política. Ao contrário, participe! Porque o político que você deseja, se não estiver nos outros, pode estar dentro de você.
Traducción
Nuevas voces en Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Los jóvenes, conectados en las redes sociales y sus dedos ágiles en sus teléfonos móviles, han salido a las calles a protestar en varias regiones del mundo.
Parecía más fácil de explicar las razones de las protestas cuando se producen en países sin democracia, como Egipto y Túnez en 2011, donde la crisis económica ha provocado el desempleo juvenil a niveles alarmantes, como en España y Grecia, por ejemplo. Pero la llegada de la ola a los países con gobiernos democráticos y populares, como Brasil, donde tenemos las tasas de desempleo más bajas de nuestra historia y de una expansión sin precedentes de los derechos económicos y sociales, requiere de todos nosotros, los líderes políticos, la reflexión más profunda.
Muchos sienten que estos movimientos significan la negación de la política. Creo que es todo lo contrario: indican la necesidad de ampliar aún más la democracia y la participación ciudadana. Para renovar la política, acercarla a la gente y sus aspiraciones cotidiana.
Yo sólo puedo hablar con más propiedad sobre Brasil. Hay una nueva generación ansiosa en mi país y creo que los últimos movimientos son en gran medida resultado de las conquistas sociales, económicas y políticas obtenidas en los últimos años. Brasil ha logrado en la última década elevar a más del doble el número de estudiantes universitarios, muchos de ellos provenientes de familias pobres. Igualmente reducir la pobreza y la desigualdad. Son cosas muy importantes, pero también es muy natural que los jóvenes, especialmente aquellos que están recibiendo lo que sus padres nunca tuvieron, quieran más.
Estos jóvenes tenían 8, 10,12 años, cuando el partido que ayudé a crear, el PT, junto con sus aliados, llegó al poder. Hubo una dictadura represiva en los años 60 y 70. Vivimos en los '80 con la inflación, cuando la primera cosa que hacíamos al recibir un sueldo era ir a un supermercado y comprar todo lo que era posible antes de que los precios subieran el día siguiente. También tiene pocos recuerdos de los años 90, cuando el estancamiento y el desempleo deprimíó a nuestro país. Quieren más. Y es comprensible que esto así sea. Han tenido acceso a la educación superior, y ahora quieren puestos de trabajo cualificados, en las que puedan aplicar lo que aprendieron en las universidades. Pasaron a contar con servicios públicos que antes no disponían, y ahora quieren mejorar su calidad. Millones de brasileños, incluyendo a las clases populares, fueron capaces de comprar su primer coche y hoy también viajan en avión. El desafío, sin embargo, debe ser un transporte público digno y eficiente, que facilite la movilidad urbana, para que sea menos dolorosa y estresante la vida en las grandes ciudades.
Los deseos de los jóvenes, por otra parte, no sólo son los materiales. También quieren un mayor acceso al ocio y la cultura. Y, sobre todo, requieren instituciones políticas más transparentes y limpias, sin las distorsiones del sistema de partidos y electoral anacrónico del Brasil, del que no se ha logrado la reforma. Es imposible negar la legitimidad de tales afirmaciones, aunque no es factible cumplir con todos a la vez. Es preciso encontrar fuentes de financiación, establecer los objetivos y el plan de cómo van a lograrse gradualmente.
La democracia no es un pacto de silencio. Es la sociedad en movimiento, discutiendo y definiendo sus prioridades y desafíos, anhelando siempre nuevos logros. Y creo que en una democracia, con mucho diálogo y construcción colectiva, estos objetivos pueden lograrse. Sólo en una democracia un indio podría ser elegido Presidente de Bolivia, y un presidente negro de los Estados Unidos. Sólo en una democracia que funcione una mujer podría convertirse en presidente de Brasil.
La historia muestra que cada vez que se negó a la política y los partidos, y se buscó una solución de fuerza, los resultados fueron desastrosos: las guerras, las dictaduras y la persecución de las minorías. Todos sabemos que sin partidos, no puede haber una verdadera democracia. Pero cada vez es más evidente que nuestra gente no sólo quiere votar cada cuatro años, delegando su destino en sus gobernantes. ¿Quiere interactuar a diario con los gobiernos, tanto locales como nacionales, participando en la definición de las políticas públicas, opinando sobre las principales decisiones que les afectan.
En resumen: no sólo quieren votar, quieren ser escuchados. Y es un gran desafío para los partidos y líderes políticos. Supone ampliar las formas de escucha y consulta, y los partidos deben dialogar permanentemente con la sociedad, en las redes sociales y en las calles, en los lugares de trabajo y estudio, fortaleciendo su diálogo con las organizaciones de trabajadores, entidades civiles, intelectuales y líderes de la comunidad, pero también con el llamado sector no organizado, que de ninguna manera tiene necesidades y deseos menos respetables.
Y no sólo durante los períodos electorales. Se ha dicho, y con razón, que la sociedad ha entrado en la era digital y la política continua siendo analógica. Si las instituciones democráticas supieran utilizar creativamente las nuevas tecnologías de la comunicación como instrumentos de diálogo y participación, no la mera propaganda, podría oxigenar - y mucho - su funcionamiento, entrando en sintonía de forma más eficaz con los jóvenes y todos los sectores sociales.
En el caso del PT, que tanto contribuyó a modernizar y democratizar la política y que hace diez años gobierna mi país, estoy convencido que él también tiene que renovarse profundamente, recuperando su vínculo cotidiano con los movimientos sociales. Dar nuevas respuestas a los nuevos problemas. Y sin tratar a los jóvenes con paternalismo.
La buena noticia es que los jóvenes no son conformistas, apáticos, indiferentes a la vida pública. Incluso aquellos que hoy piensan que odian la política, están empezando a hacer política mucho antes de lo que yo comenzara a hacerlo. A su edad, no me imaginaba ser un militante político. Y terminé creando un partido, cuando nos dimos cuenta de que en el Congreso no había prácticamente ningún representante de los trabajadores. Al principio yo no pensaba en ser candidato para nada. Y terminé siendo presidente. Hemos conseguido, por la política, recuperar la democracia, la consolidación de la estabilidad económica, la reanudación del crecimiento, crear millones de nuevos puestos de trabajo y reducir la desigualdad en mi país. Pero, por supuesto, aún queda mucho por hacer. Y que bueno que los jóvenes quieran luchar por el cambio social y mantener un ritmo más rápido.
Otra buena noticia es que la presidenta Dilma Rousseff reconoció la voz de la calle y dio respuestas valientes e innovadoras a sus preocupaciones. Propuso en primer lugar, la convocatoria de un plebiscito para la reforma política que tanto se necesita. Y puso en marcha un pacto nacional para la educación, la salud y el transporte público, en el que el gobierno federal aportará un apoyo financiero y técnico a los estados y municipios.
Cuando hablo con los jóvenes brasileños y de otros países, les digo a todos los jóvenes: incluso, cuando usted está enojado por la situación de su ciudad, su estado, su país, desanimado de todo y de todos, no niegue la política. Al contrario, participe! Pues el político que vos deseas, si no está en otro, puede estar dentro de ti.
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